Um sino da minha mente.

NOTA: ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM 3 PARTES. ESTAS SERÃO DELIMITADAS COM NUMERAÇÃO.
(1) Um sino com o qual sonho avista-se no cume da montanha. Acordo com os punhos cerrados desde então. Comecei a pensar no porquê daquilo, nunca gostei de sinos... são irritantes. Disse a mim mesmo que o sino poderia ser uma força interior e a jornada podia completar-se com as minhas atitudes no dia a dia. Mas o que seria? Foi aí que consegui avançar, avistei vários obstáculos ao longo do caminho enevoado que teria de atravessar. Senti que estava a andar sem mexer as pernas como se aquilo me estivesse a levitar e a atrair. Foi aí que avistei uma muralha sem qualquer tipo de forma de a contornar. Acordei. Não percebi do que se tratava mas não devia processar tudo aquilo logo ao acordar. Teria de viver aquele dia e perceber se algo faria sentido. Foi nesse dia que vi um puto a ser agredido na escola. Estava rodeado por três rapazes mais velhos. Imaginei a cara dele ao ver a muralha, a mesma expressão que eu teria feito. Ajudei-o, levei-o dali e expus a situação aos responsáveis do estabelecimento. Senti-me exageradamente bem por ter feito uma boa ação. Nessa noite, o muro desaparecera.
(2) Tal como na noite anterior, senti-me novamente a ser levado. E tal como nessa noite deparei-me com algo estranho. Não percebi o que era mas estava a desviar-me do caminho que deveria seguir. À medida que me aproximava, notei uma silhueta de uma mulher e senti que ela observava-me diretamente nos olhos. Foi então que voltei a acordar. Desta vez não estava assustado, até pelo contrário, estava bastante animado. Nesse dia estava bom tempo, tão bom tempo que fui passear com a malta. Foi ótimo, chegou a noite e conhecemos umas amigas do Gonçalo - o mais extrovertido. Uma rapariga despertou-me a atenção, achei-a engraçada e fui ter com ela. Por coincidência ou não, a coisa estava a encaixar perfeitamente. Foi quando já estávamos a ir embora que ela me ofereceu um sitio para dormir. Era um sim que estava na minha cabeça mas optei por perguntar o porquê de tanta generosidade. Senti um desafogo nos olhos dela e de seguida uma libertação do seu lado interior, algo que ainda não tinha acontecido. Contou-me que morava sozinha e que tinha terminado recentemente com o amor da sua vida - palavras dela. Foi aí que optei por lhe dar um abraço, senti que a compreendia e que isto não teria acontecido se não ligasse aos sentimentos dela nem aos meus. Fui para casa, nessa noite o sonho prosseguiu. A silhueta misteriosa que outrora me puxava já lá não estava e eu já teria retomado o meu caminho.
(3) Voltou a passar-se o mesmo mas agora com uma ponte. Não via o fim à coisa e já não estava a ser puxado, desta vez não acordei. Fui pelo meu próprio pé, afinal o que teria eu a perder? Por tão simples e inútil que pareça, estava o sino do outro lado. À minha espera presumia eu. Tentei associar a ponte ao facto de ter escolhido passá-la mesmo não sabendo o que estava do outro lado - uma auto superação. Aproximei-me. Reparei nos tons de vermelho que o sino apresentava. Apesar de estar rodeado por um ambiente rústico, o sino parecia ter sido colocado lá recentemente. Ainda estava novo, talvez intacto. Foi quando o toquei. No meu maior espanto, o sino emanou com excentricidade uma voz, ao invés de vibrar o cujo dito timbre. "Na conquista pelos outros, conquistas-te. Bem vindo ao teu ego, intocável e criado por ti. Bem vindo a casa."